Sinto vontade de chorar, mas não consigo. O sentimento de perda sempre é amargo, por mais que ele não saia do meu paladar. Sinto vontade de chorar, não pela perda, mas pelos rumos que tudo tomou.
Sinto vontade de chorar. Todas as vezes que recordo das tardes de domingo, com futebol na TV e nós dois na cama não ligando pro mundo. Sinto vontade de chorar, não pela sua ausência, mas pela sua presença na memória. Sinto vontade de chorar, não por você, mas por mim... apenas por mim!
Abre a porta do apartamento e o convida para entrar. Aceita um vinho?
Eles então se conduzem até o quarto mais próximo, mal se olham e se jogam na cama. Começa um jogo de dar e receber.
Ele poesia, ela prosa.
Pareciam se entender... parecia ser perfeito mas ela esqueceu-se que ali estava um ser humano, o mais imperfeito dos seres.
Ele poesia, ela prosa.
Por instantes sentiu bem fundo toda aquela vontade acumulada, sentia-se desejada, sentia-se dona do mundo, da cama e do gozo.
Ele poesia, ela prosa.
Quando se lembrou que estava dormindo com alguém que não conhecia se sentiu mal. Como é difícil reconstruir qualquer coisa. Sentia saudade da cumplicidade, da fúria, da paixão e do amor.
Ele prosa, ela poesia.
As pessoas mudam. Questiona-se porque as coisas boas não são pra sempre como sorvete de baunilha e cerveja na padaria?
Ele prosa, ela poesia.
Os pólos se inverteram... ele positivo, ela negativo. Ele sentia-se desejado, dono do mundo, da cama e do gozo.
Ele prosa, ela poesia.
E então em silencio ela chorou... de saudade, de vontade de não estar ali, de raiva do mundo e de si.